
Mirian Goldenberg é antropóloga e atua como professora titular do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e autora de best-sellers como A outra (1990) e A bela velhice (2013). Mas a expressão que melhor lhe define e lhe agrada atualmente é outra: “escutadora dos velhinhos”.
Desde 2015, a acadêmica santista radicada no Rio vem investigando o estilo de vida dos idosos (mais de 60 anos) e dos superidosos (mais de 90). Muitos dos entrevistados para seus estudos, inclusive, se tornaram seus amigos, principalmente os do segmento super: eles se falam quase todos os dias, por Facebook ou WhatsApp, e saem juntos para ir ao cinema, ouvir música, tomar chope. Segundo Mirian, os idosos são ativos, independentes, lúcidos e alegres.
Foram eles que inspiraram a conferência A invenção de uma bela velhice, apresentada pela antropóloga no TEDx São Paulo, em novembro de 2017. O vídeo, que desde sua publicação no YouTube, em janeiro de 2018, já ultrapassou um milhão de visualizações, também motivou Mirian a escrever o livro Liberdade, felicidade e foda-se, que será lançado no dia 22 de julho no Rio de Janeiro.
Na obra, especialmente endereçada a mulheres, a autora nos incentiva a ligar o botão do “foda-se”. “Vão dizer que sou uma velha ridícula porque vou à praia de biquíni? Ou que sou uma velha baranga porque gosto de usar minissaia? Vão dizer também que sou uma coroa periguete porque namoro um cara mais jovem?”, questiona a antropóloga na palestra. “Foda-se.”
Para Mirian, a palavrinha traduz a atitude libertadora de não se importar com o que os outros vão pensar, o que é especialmente caro a nós, mulheres. E não é de hoje que ela aborda a vigilância constante sobre a mulher e, principalmente, sobre o corpo feminino.
No livro Toda mulher é meio Leila Diniz (1995), a escritora conta como a atriz (1945-1972), que, em 1971, escandalizou a sociedade fluminense ao passear, grávida e de biquíni, na praia de Ipanema, liderou uma revolução simbólica ao escolher ter um filho fora do casamento e ainda exibir a barriga publicamente. Mais de 40 anos depois, a luta continua: em 2013, a atriz Betty Faria, na casa dos 70, foi alvo de críticas por ir à praia do Leblon, no Rio, de biquíni. “Gosto muito da resposta corajosa que a Betty deu às críticas: ‘Quer dizer que eu preciso ir à praia de burca?’ O fato de pessoas famosas levantarem essas questões ajuda a desconstruir o estigma do envelhecimento”, diz Mirian.
Há três décadas a antropóloga pesquisa temas relacionados às mulheres. Já fez estudos sobre fidelidade (publicados nos livros A outra, de 1990, e Infiel, de 2006), corpo e sexualidade (Os novos desejos, de 2000, Nu & vestido, de 2002, entre outros) e, em sua últimas pesquisas, vem discutindo questões como vaidade e liberdade para mulheres maduras (Coroas, de 2008, Velho é lindo!, de 2016, entre outros).
Em Liberdade, felicidade e foda-se, a “escutadora dos velhinhos” costura dados e depoimentos colhidos ao longo de um levantamento com mais de 5 mil homens e mulheres de 18 a 98 anos. E, apesar de refletir a intersecção dos vários temas que permeiam os estudos de Mirian , como o feminino e, mais recentemente, a velhice, a obra busca um propósito ainda maior. “Este é um livro sobre felicidade”.

Fonte: Revista Trip
